Olá, pessoas. Tudo bem com vocês?
Como designer, meu trabalho é criar experiências que funcionem. Infelizmente, nos últimos anos, “funcionar” passou a significar “prender a atenção a qualquer custo”. E é aí que mora o perigo.
Olhe à sua volta: as telas viraram uma extensão do nosso corpo.
Os fatos que ninguém quer ver
Os números são alarmantes e, no nosso meio, já são um segredo aberto. Você sabia que passamos, em média, mais de seis horas e meia por dia olhando para uma tela? Pense nisso: quase um terço do nosso tempo acordado é dedicado a interagir com algo que nós mesmos projetamos.
O problema não é o tempo em si, mas o que ele faz com o nosso cérebro. Estudos mostram que a busca constante por novidades, impulsionada pelo feed que nunca acaba e pelas notificações vibrantes, está encurtando nossa capacidade de foco. Nossa atenção média está em queda livre, tornando-se mais curta do que a de um peixinho dourado.

Nós, designers, nos tornamos mestres em dar ao usuário exatamente o que ele quer: a próxima dose de dopamina, o próximo “curtir” ou o vídeo mais curto. O cérebro adora a recompensa rápida e nós projetamos os sistemas mais eficientes para entregá-la.
A nossa responsabilidade
Dizem que o UX (Experiência do Usuário) é sobre empatia. Mas que tipo de empatia é essa que, sabendo do vício, continuamos a otimizar o algoritmo para mais “engajamento”?
A verdade é que nossas interfaces estão cheias de truques psicológicos. Cada notificação que surge é um pequeno alarme que sequestra sua atenção. O scroll infinito é um convite sedutor para nunca parar. O contador de likes não é apenas um número; é uma métrica de validação social que nos obriga a voltar.
Nós trocamos a satisfação profunda pela gratificação instantânea.
O que estamos projetando não é mais apenas um aplicativo útil ou um site funcional. Estamos projetando hábitos. E esses hábitos estão nos tornando impacientes, incapazes de lidar com o tédio e menos propensos a absorver conteúdos mais longos e complexos. O designer que cria a interface de um aplicativo de mídia social tem tanto poder quanto um arquiteto que projeta uma cidade inteira.
O que podemos fazer agora
A boa notícia é que podemos mudar o foco. Se somos capazes de desenhar produtos que viciam, também somos capazes de desenhar produtos que libertam e que promovem o bem-estar.
Nosso futuro como designers não pode ser pautado em manter o usuário “preso” na tela, e sim em ajudá-lo a alcançar seus objetivos e sair da tela quando for necessário.
É hora de parar de otimizar para o vício e começar a otimizar para a vida real. Isso significa:
- Desenhar a pausa: Criar momentos de “fricção” saudável que incentivam o usuário a parar e refletir.
- Menos brilho, mais utilidade: Reduzir a manipulação e focar na função essencial do produto.
- Respeitar o tempo: Evitar truques que enganam o usuário a passar mais tempo do que o pretendido.
Se continuarmos desenhando para o “brain rot“, ou seja, a deterioração mental causada pelo consumo excessivo de conteúdos digitais superficiais, seremos responsáveis pela sociedade distraída e a geração de viciados em telas que ajudamos a construir. O design digital tem que ser ético, ou não será nada.
Vale a reflexão e a ação 😉



